Editorial
Quem é contra a Educação de Jovens e Adultos?
“Ora bolas, ninguém é contra…” responderão alguns mais desavisados.
Então , como se explicam hoje no Brasil 75 MILHÕES de adultos que não concluíram a educação básica obrigatória?
Clareando: desde 2009, consideram-se “ensino obrigatório” (direito dos cidadãos e dever do Estado) a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio. Ora, a atual população de mais de 18 anos no Brasil é de 150 milhões. Destes, mais de 75 milhões não concluíram o ensino médio. Ou seja: mais de 50%. Um a cada dois pode-se considerar sub-escolarizado, privado de seu direito de cidadania.
Pior: a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que já teve sete milhões de matrículas em anos recentes, tem agora, segundo o Censo Escolar, menos de três. Nem 5% dos adultos sub-escolarizados estão matriculados. Ninguém é contra a EJA?
Agora o pior: de mais de três milhões de estudantes do primeiro ano do ensino médio, MAIS DE UM MILHÃO não o conclui nos três anos previstos. Ou seja: a cada ano aumenta o número dos jovens e adultos sub-escolarizados, já que, menos de um milhão entre 1.350.000 óbitos anuais, é de brasileiros(as) que não concluíram o ensino médio.
Há vinte anos já se fechavam mais que se abriam classes de EJA. Autoridades do ensino justificavam esta medida dizendo que a evasão era altíssima, o que resultava em altos custos e em sérios problemas de gestão. Pesquisadores e educadores chegaram a uma conclusão: currículo inadequado e metodologias equivocadas eram os responsáveis.
Realmente, oferta do puro Abc não atraía mais ninguém. Muito menos segurava a atenção e a presença dos adultos disputados pela sedução das novelas televisivas. Foi proposto um currículo híbrido, com componentes profissionais e culturais somados às “disciplinas” do Núcleo Comum. Que falar das metodologias, transportadas por mestres despreparados, das classes de pré-escola e ensino fundamental de crianças para a dura realidade de pais e mães de família cansados ao fim da jornada de trabalho? Finalmente, às artimanhas do “mercado”, somaram-se os facilitários dos exames e cursos supletivos.
Com o FUNDEB, em 2007, uma luz no fim do túnel. Redes estaduais e municipais receberiam tanto mais verbas quantos fossem as matrículas nas classes de EJA, não importassem os números de abandono ao longo do ano. É difícil imaginar melhor isca! Nem isto, nem os Fórum EJA, nem livros didáticos gratuitos funcionaram. De 19 a 22 horas os adultos se dividem entre bares, sofás e igrejas. Ninguém é contra a EJA?
Mudando a pergunta: quem é a favor?
Responsável: João Monlevade.